- Vamos descer um pouco? Afinal estamos voando a dias; e você deve estar como eu, muito cansada e com certeza encontraremos água e comida lá em baixo!
A Águia olhou com seus olhos astutos para baixo e talvez sem pensar na preocupação do Condor para com ela, respondeu-lhe:
_ Como você tem coragem de acreditar que neste deserto conseguiremos encontrar água e comida? Será que não percebe que se descermos, morreremos escaldados pelo sol e serviremos de alimento para outro animal qualquer? O Condor neste momento, sentiu a racionalidade da Águia e a sua falta de vontade em querer acreditar, que alguma coisa de bom, pudesse acontecer na tentativa. Era como se a Águia houvesse assumido uma outra personalidade diferente da demonstrada a um bom tempo atrás.
O Condor calou sua voz, mas seus pensamentos debulhavam as palavras e atitudes demonstradas pela Águia. Seguiram por mais alguns dias calados e sufocados pela fome, cansaço e dúvidas entre si. E todas as vezes que o Condor tentava entrar no mérito da questão, querendo entender o que se passava; a Águia sempre muito racional e até fria; lhe achava incompreensível e cobrador de algo, que com certeza, o Condor não tivesse direito.
Ao passarem bem próximo a uma linda cachoeira, o Condor entusiasmado disse:
_ Olhe só, quanta água! Deve ter peixes grandes ali e você com sua rapidez, poderia caçar por nós. Suas garras apanhariam os peixes e comeríamos para matar nossa fome.
A Águia olhou para baixo e respondeu-lhe:
_ Como você quer que eu chegue próximo aos peixes se o volume da água deste rio é imenso! Poderia me sufocar com a pressão da água sobre mim! E se tentasse apanhá-los próximos às pedras; poderia um jato forte da água desta cachoeira, me derrubar para dentro do rio e eu morreria. Será que você não consegue enxergar o que está me pedindo? O perigo que corro? As dificuldades que teria que enfrentar para vencer isto? Será que você não vê que estaria arriscando tudo o que tenho, por uma tentativa que poderia não dar em nada? Não consegues entender, que nada valeria este risco?
O Condor, neste momento; sentiu que não estava mais falando com a Águia que conhecera. E neste momento, mais do que os outros; sentiu-se só novamente. Mas já não mais queria sufocar o que pensava, porque havia agora uma necessidade pessoal de falar. E quando tentou mostrar à Águia o que sentia com relação ao que estavam passando; a Águia mais que rapidamente e extremamente racional; mostrou-lhe, que suas prioridades eram outras. E que o Condor, era apenas uma boa companhia enquanto se silenciava ou escutava o que ela dizia.
O Condor sentiu-se novamente só... bem só... Mas uma solidão um tanto quanto pior, porque ela vinha acompanhada de sentimento. E ainda tentou, mesmo de maneira errada, mostrar para a amiga, que ainda poderiam voar juntos.
Mas foram tantas as tentativas frustradas, que o Condor um dia; como a Águia, usou de racionalidade e afastou-se, mas com esperanças de que sua companheira ainda pudesse lhe procurar. E em meio a uma grande discórdia, levantou seu vôo sem dizer adeus; pois dentro de si, ainda queria a Águia próxima a ele. Ainda sonhava com o vôo bem suave e caloroso que poderiam realizar juntos.
Quando já estava a uma boa distância, teve a necessidade de olhar para trás. Mas o vento soprava fortemente. A distância entre ambos já era muito grande, que os olhos do Condor, não mais puderam ver os olhos da Águia.
Talvez ambos tenham se arrependido, de não terem tentado voltar atrás e recomeçar seu vôo juntos, mas silenciaram-se. O Condor ainda esperaria; mas conhecendo sua amiga, sabia que ela nunca o procuraria; porque sua racionalidade era bem mais forte que seu sentimento. E os sentimentos de ambos, eram medidos pela Águia (sempre racional ), com uma desvantagem para o Condor: " ele a amava mais "!
E se foram... Para onde? Não se sabe; mas ainda se ouve o bater das asas solitárias do Condor nos altos das Cordilheiras e o grito da Águia nas montanhas; à procura do que ela com certeza; não deu conta de que era "sentimento"
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